Viagem & sociedade: a grama do vizinho é mesmo mais verde?
Viajar para outros países é um inevitável exercício de vislumbramento de elementos excêntricos. O simples fato de sair do local cotidiano pode aguçar nossa sensibilidade para observar traços culturais marcantes de outros povos, admirar diferentes formas de construções e experimentar gostos e sensações diferentes. Este olhar de turista garante o encanto a cada novo roteiro traçado.
Entretanto, considero muito importante que não deixemos de refletir sobre a realidade daqueles que vivem em cada lugar. Ainda me deslumbro com os cenários que o mundo tem a oferecer, mas não deixo que estes obscureçam minha visão sobre a realidade.
Visitar a Argentina e contemplar suas maravilhas culturais e arquitetônicas certamente faz parte do ofício de cada turista. Percebi que necessitava olhar além disso. Entendi a desigualdade, observando a existência de uma favela no coração de Buenos Aires, ao lado da rodoviária. Compreendi a crise econômica que eles enfrentam, ouvindo notícias de outros viajantes sobre a escassez de alimentos e observando que a moeda argentina foi desvalorizada em mais de 50% em menos de um ano.
Tomar café nas ruas parisienses e admirar as obras de arte que a cidade oferece em seus museus e arquitetura são certamente ótimas experiências. Para acessar alguns lugares, tive que enfrentar um metrô tão lotado quanto no Rio de Janeiro em horário de pico. Olhando para além disso, observei que a desigualdade também estava lá, principalmente para aqueles que dormiam ao relento, à própria sorte em um gélido inverno.
Certamente, viajar é uma maneira de ampliar sua visão de mundo e minimizar o discurso dominante em que profetiza-se que “a grama do vizinho é sempre mais verde”.Observe as ruas, converse com moradores… Pode parecer algo simples, mas trará uma grande compreensão da realidade. Convido cada viajante a (re)pensar cada lugar não somente como consumidor, mas tentando compreender o que é cotidiano para aqueles que lá vivem.