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Por que a dança semeou o ódio?

Há um tempo atrás, publicamos um chamado para publicações de nossos seguidores em Angola. Como já era de se esperar, recebemos respostas de pessoas que optaram por expor manifestações culturais em forma de música e dança. Recebemos vídeos, onde um rapaz nos apresentava o kuduro com sua interpretação pessoal.

Este vídeo teve mais de 12 mil visualizações. Trouxe alegria a diversas pessoas. Despertamos sorrisos, curiosidade… Chicas Lokas é uma marca criada por pessoas que admiram manifestações culturais que envolvem danças e por isso este vídeo foi um grande presente para nós.

Ainda com todos os aspectos positivos, surpreendentemente o vídeo despertou alguns comentários que conseguiram nos surpreender de maneira negativa. Discutimos como administradoras e decidimos que tais comentários não teriam espaço em nossos canais de comunicação, pois não gostaríamos que a marca Chicas Lokas fosse utilizada como veículo para propagação do ódio.

postagens de ódio

Nesse ínterim, surgiram questionamentos. Por que algumas pessoas pensam que um jovem angolano não deveria ser visto em um vídeo?

Então, lembrei-me de um vídeo que viralizou há algum tempo atrás que mostrava uma bailarina clássica dançando na rua ao som de um violino. As pessoas comentavam o quão lindo era aquele vídeo e coisas parecidas. Realmente era lindo. Uma manifestação cultural que não é oriunda de países negros, latinos ou árabes seria vista como inapropriada?

Faço aulas de dança do ventre e faço parte de um grupo de danças folclóricas árabes. Não me considero uma das melhores, mas sou uma aluna de nível intermediário. Considero essas danças manifestações complexas e vibro cada vez que passo a dominar um novo movimento. Quando penso em dançar, não penso em um homem me olhando. Apesar disso, algumas vezes que dancei, ouvi comentários como “Deve ser uma dança diferente todo dia para seu marido”, afinal de contas, se você faz dança do ventre você deve querer impressionar os homens (as pessoas realmente pensam isso). Por causa deste pensamento, eu evitei por muito tempo mencionar que eu praticava dança do ventre (o machismo nosso de cada dia mais uma vez em evidência).

Mais uma vez, a nossa página se põe à disposição para problematização. Não aceitaremos ser uma via de propagação de intolerância e vamos excluir de nossa fanpage todo e qualquer comentário de ódio. No mais, convido à problematização. Por que kuduro não seria digno de estar no Facebook e o balé clássico é?

Esteja aberto para o novo! Assista o vídeo.

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Brasileira e carioca. Residente no Rio de Janeiro. Formada em Pedagogia, atua como professora, mais especificamente na área de Educação Especial. Casada, além disso vive com um cachorro com uma inteligência assustadora. Ama dançar. Mochileira assumida com paixão por botar o pé na estrada.