Nossos amados portugueses
Uma vez me disseram que os portugueses, por terem passado por situações de guerras em tempos de outrora, aprenderam a falar tudo muito ao pé da letra – seja por terem sido muito censurados, seja por ter que repassar a informação de maneira prática e pronta. Seja como for, eles se comunicam de uma maneira que é muito direta e diferente da nossa. A ironia e o humor são bem diretos, tem que ficar claro que você está brincando.
Aí aconteceu que, em 2006 quando morei na Inglaterra, tinha um colega (que virou muito amigo) que era português. Não sei como teria me virado por lá sem a ajuda dele. Meu orientador de lá pediu que ele me ajudasse nos assuntos da burocracia com a universidade. Aí ficamos bem amigos. E amigos brincam um com o outro. Um dia no laboratório, ele ficou fazendo umas palhaçadas. A gente aqui no Brasil sempre tem a liberdade de dizer algo do tipo “tá bancando o palhaço por que?” ou “pra que a bobeira?”. Quando a gente é amigo, a gente sente liberdade assim. Aí eu disse “tás a parecer um parvalhão (bobão em Portugal)”. Caraca…o bichinho ficou ofendido, viu? Ele perguntou com uma cara super triste “Mas por que você me ofendeu?”. Gente, e pra eu me explicar? A partir desse dia comecei a perceber que falar a mesma língua que outra pessoa em outro lugar no mundo não é suficiente pra se comunicar totalmente com ela. Claro, de uma maneira formal e entendendo algumas diferenças no discurso, sim. Mas comunicar amizade, brincadeira e partilhar a vida com alguém com quem você se comunica é também entender a cultura e o contexto de onde aquela pessoa veio e de onde ela vive. Comecei a tentar entende-lo melhor e ele também a mim.
Foi quando aconteceu o segundo caso, esse sim hilário! Era sábado, estávamos no centro de Nottingham, portuga e eu.Eu me lembrei que meu tênis estava imundo e iria precisar dele na segunda-feira. Fazia um frio de rachar e a gente andava tremendo. Aí comentei: “Poxa, vou chegar em casa e tenho que lavar o tênis na água gelada do tanque da garagem”. Ele sugeriu de lavar na máquina de lavar. Aí eu disse “não, quando a gente chegar melhor eu lavar na banheira mesmo, que a água é quente, pronto!”. Ele: “Mas não , não podes lavar um tênis na banheira!” e eu “poxa, na máquina pode e na banheira não?” . E ele : “Claro que não , pois vais gastar muita água a encher aquela banheira inteirinha de água pra lavar um tênis!”. Eu não aguentei, né : “Cara, na torneira da banheira, não precisa encher! Você é português, pô?!” e ele: “Ora, sou!” e caímos na gargalhada!
Numa outra vez, a gente em casa (dividíamos uma casa com 3 quartos, cada um com o seu). Ele havia me emprestado algumas coisas quando aluguei o quarto, não tinha necessidade de comprar tudo porque ele tinha travesseiros e utensílios que poderia emprestar. Nosso amigo entrou escondido no meu quarto (ele tinha mania de fazer brincadeirinhas desse tipo com a gente) e roubou o travesseiro. Saí correndo gritando atrás dele “devolve meu travesseiro”. O portuga do alto da portuguesisse dele, abre a porta do quarto e grita : “não é sua almofada (travesseiro) é minha, minha almofada!!!” e fechou a porta. Tinha que ficar claro que eu devolveria um dia, né ?
Além dessas histórias, houve alguns outros eventos… como quando eu dirigia em Portugal e ele ia de carona. Estávamos perdidos e ele sempre mandava eu ir a à direita (e continuar perdidos). Andávamos em círuculos…ele não sabia onde ir, mas mandava virar. E a justificativa:”Precisavas seguir, só mandei virar pra seguir. Tinhas de seguir, ora!”. Ou quando ele e o irmão dele insistentemente me corrigiam que não se dizia “banheiro”, mas o correto é “casa de banho” e que se ao invés de “lata de lixo” eu tivesse dito “lixo” eles saberiam dizer onde eu poderia “deitar fora” o chiclete de que eu queria me livrar.
Enfim, são portugueses…são adoráveis . Eu estive em Portugal também e simplesmente amei. Um dia eu conto!
E você, também tem casos de portugueses ou passou casos engraçados por causa da língua? Conta pra nós!