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Nossos amados portugueses

Uma vez me disseram que os portugueses, por terem passado por situações de guerras em tempos de outrora, aprenderam a falar tudo muito ao pé da letra – seja por terem sido muito censurados, seja por ter que repassar a informação de maneira prática e pronta. Seja como for, eles se comunicam de uma maneira que é muito direta e diferente da nossa.  A ironia e o humor são  bem diretos, tem que ficar claro que você está brincando.

Castelo_São_Jorge_Lisboa
Castelo São Jorge, Lisboa. Imagem retirada de http://www.wikiwand.com/pt/ Bandeira_de_Portugal

Aí aconteceu que, em 2006 quando morei na Inglaterra, tinha um colega (que virou muito amigo) que era português. Não sei como teria me virado por lá sem a ajuda dele. Meu orientador de lá pediu que ele me ajudasse nos assuntos da burocracia com a universidade. Aí ficamos bem amigos. E amigos brincam um com o outro. Um dia no laboratório, ele ficou fazendo umas palhaçadas. A gente aqui no Brasil sempre tem a liberdade de dizer algo do tipo “tá bancando o palhaço por que?” ou “pra que a bobeira?”. Quando a gente é amigo, a gente sente liberdade assim. Aí eu disse “tás a parecer um parvalhão (bobão em Portugal)”. Caraca…o bichinho ficou ofendido, viu? Ele perguntou com uma cara super triste “Mas por que você me ofendeu?”. Gente, e pra eu me explicar? A partir desse dia comecei a perceber que falar a mesma língua que outra pessoa em outro lugar no mundo não é suficiente pra se comunicar totalmente com ela. Claro, de uma maneira formal e entendendo algumas diferenças no discurso, sim. Mas comunicar amizade, brincadeira e partilhar a vida com alguém com quem você se comunica é também entender a cultura e o contexto de onde aquela pessoa veio e de onde ela vive. Comecei a tentar entende-lo melhor e ele também a mim.

Foi quando aconteceu o segundo caso, esse sim hilário! Era sábado, estávamos no centro de Nottingham, portuga e eu.Eu me lembrei que meu tênis estava imundo e iria precisar dele na segunda-feira. Fazia um frio de rachar e a gente andava tremendo. Aí  comentei: “Poxa, vou chegar em casa e tenho que lavar o tênis na água gelada do tanque da garagem”. Ele sugeriu de lavar na máquina de lavar. Aí eu disse “não, quando a gente chegar melhor eu lavar na banheira  mesmo, que a água é quente, pronto!”. Ele: “Mas não , não podes lavar um tênis na banheira!” e eu “poxa, na máquina pode e na banheira não?” . E ele : “Claro que não , pois vais gastar muita água a encher aquela banheira inteirinha de água pra lavar um tênis!”. Eu não aguentei, né : “Cara, na torneira da banheira, não precisa encher! Você é português, pô?!” e ele: “Ora, sou!” e caímos na gargalhada!

Numa outra vez, a gente em casa (dividíamos uma casa com 3 quartos, cada um com o seu). Ele havia me emprestado algumas coisas quando aluguei o quarto, não tinha necessidade de comprar tudo porque ele tinha travesseiros e utensílios que poderia emprestar. Nosso amigo entrou escondido no meu quarto (ele tinha mania de fazer brincadeirinhas desse tipo com a gente) e roubou o travesseiro. Saí correndo gritando atrás dele “devolve meu travesseiro”. O portuga do alto da portuguesisse dele, abre a porta do quarto e grita : “não é sua almofada (travesseiro) é minha, minha almofada!!!” e fechou a porta. Tinha que ficar claro que eu devolveria um dia, né ?

Além dessas histórias, houve alguns outros eventos… como quando eu dirigia em Portugal e ele ia de carona. Estávamos perdidos e ele sempre mandava eu ir a à direita (e continuar perdidos). Andávamos em círuculos…ele não sabia onde ir, mas mandava virar.  E a justificativa:”Precisavas seguir, só mandei virar pra seguir. Tinhas de seguir, ora!”. Ou  quando ele e o irmão dele insistentemente me corrigiam que não se dizia “banheiro”, mas o correto é “casa de banho” e que se ao invés de “lata de lixo” eu tivesse dito “lixo” eles saberiam dizer onde eu poderia “deitar fora” o chiclete de que eu queria me livrar.

Enfim, são portugueses…são adoráveis . Eu estive em Portugal também e simplesmente amei. Um dia eu conto!

E você, também tem casos de portugueses ou passou casos engraçados por causa da língua? Conta pra nós!

 

Física de formação, maluca de coração, apaixonada por Deus e por viagens. Viajou uns 21 países (e alguns revisitou), além de conhecer vários encantos de Minas (sua terra natal) e do Brasil. Visitou mais lugares que imaginava e menos do que gostaria, mantendo assim a sede de viajar, porque o mundo é grande, a vida curta e a grana mais curta ainda!