O que os americanos fazem diferente dos brasileiros? (gastronomia)

Conhecer um gringo, vir aos EUA muitas vezes e finalmente casar e mudar pra cá de vez me fez aprender muito sobre a cultura Norte-americana. A gente como brasileiro escuta muitas histórias, tipo “ah, eles fazem assim”, “ah americano é assim…”. Mas será que somente viajar pra cá a turismo é suficiente para entender todos os hábitos dos norte americanos?

Quando a galera fala de “imersão” ao invés de turismo, é meio complicado de acreditar que vai acontecer em um mês de viagem. Claro que em um mês você vai viver muita coisa, mas vai querer visitar lugares bacanas e vai ter sede de sair de casa e interagir. Claro que é ótimo! Mas o engraçado é que quando comentei com o Amor sobre como as pessoas falam de “imersão na cultura americana”, ele disse “ué, eles querem vir pra cá pra esperar o fim de semana ou o fim do expediente pra sair?”.

Para mim, imersão de verdade é quando a pessoa mora aqui e começa a se relacionar, trabalhar, estudar, ter amizades mais profundas, conviver com uma família. Quando isso acontece, o nível de intimidade que você cria com as pessoas te dá muito mais espaço para entender mais profundamente a cultura. Eu morei nos EUA por um mês em 2012 e digo que não deu pra aprender nem metade do que tenho vivenciado em 10 meses aqui. E olha que 10 meses é ainda pouco… Mas o suficiente para compartilhar neste post um pouco do que percebi do que se faz diferente aqui!

1.Compartilhar comida só depois de ter provado

Vou contar um caso que aconteceu ano passado com a gente, que finalmente revelou um mistério na nossa relação, haha… Estávamos no parque Universal, na Flórida, e entramos numa loja de doces. Tava muito quente e o doce que ele queria comprar era caramel apple (tipo uma maçã do amor coberta de doce de leite). Era muito grande e muito doce, então eu não queria uma inteira. Perguntei se ele ia deixar eu provar a dele e ele disse que sim. Quando o doce veio, eu pedi pra ele. Ele olhou pra mim com uma cara de desagrado e disse “claro que não, eu não provei ainda!”. Eu fechei a cara pra valer, fiquei superchateada e ele não entendeu nada.

Mais tarde, a gente sentou numa escadinha, réplica de Nova Iorque, para comer um pretzel. Eu ofereci o meu antes de morder. Aí, como ele descreve, veio a epifania: “Peraí, isso já aconteceu antes. Como você oferece a comida no Brasil?”. Aí eu disse que no Brasil em geral a gente oferece primeiro, antes de morder, como forma de educação. Aí que a gente entendeu: no Brasil, a cultura em geral é oferecer antes de morder. Aqui, é oferecer logo depois que você provou!  Começamos a perguntar para casais amigos (gringo e brasileira) e vimos que era coisa de Brasil mesmo! Chegamos à conclusão que não tem nada melhor ou pior nos hábitos, é somente uma questão de cultura!

2. A conta do restaurante vem sem você pedir e não dar gorjeta é feio

Eu lembro que quando comecei a vir muito pra cá, logo que comecei a namorar o Amor, eu conversei com um amigo sobre as coisas diferentes no restaurante daqui. Ele me contou uma história engraçada de como a garçonete da hamburgueria correu atrás dele cobrando a gorjeta e ele não entendeu.

Vamos entender então: assim como no Brasil, você chega ao restaurante e em geral espera alguém te encaminhar para a mesa. Logo depois o atendente vem e te oferece algo para beber. Trazem sua bebida e perguntam se você quer pedir algum aperitivo ou já a comida. Você pede, come e eles vêm checar se tá tudo certo. Em geral enchem seu copo de novo – água ou outra bebida não alcoólica em geral tem refil de graça. Depois que você termina, oferecem a sobremesa. Se você quiser ótimo, trazem o doce. Se não, já soltam a conta na lata!

Para nós brasileiros, trazer a conta sem a gente ter pedido parece um movimento pra te chutar para fora do restaurante. Aqui é normal. Vão sempre trazer antes mesmo, sem você pedir. Poem a conta  na mesa e dizem: “For whenever you are ready”, isto é, “quando você quiser”. Agora acho até engraçado quando tem que pedir… a gente acostuma. Se quiser esperar, eles não se importam muito. Agora, a gorjeta é um negócio que eles esperam! Em geral, levam seu cartão de crédito e trazem de volta o papelzinho, desta vez para você assinar e adicionar os 10% no mínimo.

3. Água de coco servida no coco é raridade

Na primeira vez que o Amor foi ao Brasil a gente foi à praia, claro. Fomos à Barra. Um dos meus “rituais” quando vou à praia é andar descalça na areia, depois na água e beber uma água de coco. Falei isso pra ele. Aí andamos, andamos na água e falei que era hora da água de coco. Achei uma barraca de coco e pedi dois. O vendedor estava lá, abrindo o coco pra gente. Como de costume, colocou os canudinhos e estendeu os cocos pra gente. O Amor olhou pra mim com uma cara de encantamento, hahah! Eu perguntei o que estava errado. Ele disse que nada, mas nunca tinha bebido água de coco assim. Eu achei super engraçado e perguntei o que ele esperava… ele disse: ué, um copo, uma jarra… mas não no coco!

Aí que entendi que mesmo na Flórida não é sempre assim (o Amor morou lá e a gente também viajou para lá recentemente). Água de coco servida no coco aqui nos EUA  eu vi só em uma praia no Havaí e numa praia em Naples, na Flórida. Então essa é mais uma diferença  da gente pra eles!

4. Bebida alcoólica é raramente permitida em espaços abertos

Essa é uma regra que quase todo mundo que vem aqui já sabe. Afinal, ninguém quer encrenca. Diferentemente do Brasil, onde praticamente em todo lugar se pode beber ao ar livre, aqui quase nunca pode. Bebidas só dentro dos bares (aliás, criança não pode sentar na área de bar do restaurante).  Na calçada, ainda que em frente do restaurante, só se estiver cercada e ainda for parte do estabelecimento. Andar bebendo álcool só em algumas cidades.

Em Key West, na Flórida, é permitido em todas as ruas e esta é uma das raras exceções. Lembro também que na Disney Springs, complexo de lojas da Disney, também pode se você provar a idade com documento com foto. Em Chicago, existem áreas ao redor do Chicago river onde também é permitido, mas há sinais no trecho indicando que passando daquele ponto, não é mais permitido.

Minha dica de amiga é: pense que você não pode nunca consumir bebida alcoólica em espaços abertos aqui nos EUA. Quando for permitido, você vai ver a indicação. Se quiser beber, que seja dentro do bar ou restaurante ou ainda em residências. Não se meta em encrenca!

5. A culinária norte-americana vai muito além de hot dogs e hambúrgueres

Frase que quase sempre ouço de brasileiro: “Nossa, mas americano só come porcaria!”.  Mas morando aqui, vejo o que acontece.  Na verdade, aqui nos EUA tem sim muita oferta de frutas e legumes saudáveis. O problema é que a comida processada tem vários atrativos: praticidade, sabor forte e principalmente… preço!

Pois é… comida processada aqui é muito barato. A tentação de comprar porcaria fica grande, principalmente para famílias com baixa renda. Se você pode oferecer cereal açucarado baratinho que seu filho adora, por que você vai comprar a granola sem açúcar que é o dobro do preço e que a criança vai demorar mais a aceitar? Os pais mais pobres e que trabalham fora nem sempre podem fazer isso.

Agora, fora a parte do preço e da comida processada, vamos às opções. Muita gente acha que comida americana é só porcaria e Mc’Donalds. Acho que o que acontece é que muitas vezes, por desconhecer o idioma ou por medo de arriscar comer algo caro e que não gosta, o brasileiro não pede outras comidas e não arrisca outros restaurantes. Tem vários lugares em que se pode comer comida mexicana, havaiana, sushi, power bowls e vários outros tipos de comidas mais nutritivas e que você vai pagar bem pouco a mais. Às vezes nem é mais caro.

Que tal na sua próxima viagem você perder o medo e apontar a foto da comida que você quer? Tem também o app do google tradutor, porque não usar? Dá até pra ler o menu com o app! Custa literalmente zero tentar. Arrisque-se e você vai conhecer um mundo de culinária deliciosa como clam showder (servido com oyster carkers, claro!), lobster roll (com manteiga derretida, sure!), blueberry pie, poke bowl e muito mais 🙂

6. Tamanho das porções

Se tem uma coisa que ainda me deixa espantada aqui, e não sou só eu porque a galera daqui reconhece também – são os tamanhos das porções. Sério… é pior do que você já ouviu. Tipo, você vai tomar sorvente e tem 6 opções de tamanho: baby, kiddy. small, medium, large e extra large. Para você ter uma ideia, o small é nosso extra grande no Brasil!

E o café então? E não tô falando isso porque o café daqui seja “chafé” não. É até bem bom. Tirando o espresso italiano, que é a mesma coisa aqui, chego à conclusão que vivemos em dois extremos: porções miseráveis no Brasil e absurdas de grandes aqui! Claro, tem exceções dos dois lados. Mas depois da foto aí, você consegue entender o que tô falando…

Leia também: 5 comidas para um estrangeiro provar no Brasil

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