Meu Pai Mochileiro – uma aventura no Nordeste de 1969 – capítulo I
Eu, Giselle, vou introduzir este texto… É o “Lokas & Loucos” dos mais especiais que já ajudei a publicar! Explico… A primeira vez que ouvir falar em viajar e mochilar foi pelo meu pai, contando suas peripécias pelo nordeste brasileiro nos idos de 1969. Fui desde cedo introduzida ao verdadeiro significado de mochilão, raiz mesmo, haha! Ele sempre conta suas histórias pra gente, mas em pedaços. Quando o convidei para escrever pro nosso blog, ele aceitou sem pestanejar! Então, aqui vai o primeiro capítulo desta saga. Pretendemos publicar um capítulo por semana. As aventuras são muitas! Preparem-se!
AS AVENTURAS DE UM MOCHILEIRO PELO NORDESTE DO BRASIL
– Por JJFontes.
PARTE I
O INÍCIO
Não gosto muito de falar, fora do âmbito familiar, sobre as coisas que aconteceram em minha vida.
Sou meio lacônico em descrever alguns fatos e às vezes tenho a sensação de não ter completado bem a história. Peço desculpas se isso ocorrer durante a exposição das minhas narrativas, mas, por insistência de minha filha Giselle, fui convencido a colaborar com este “blog” e contar alguns dos principais “lances” e mais curiosos acontecidos durante uma viagem – a mais longa, tanto em distância, como em tempo de duração -, que já fiz até hoje, nestes meus 74 anos de vida, bem vividos.
Aviso a quem estiver pensando em se lançar numa experiência parecida, que tome muito cuidado e se prepare bem. Não siga meu exemplo, ele não serve, mas se a vontade for grande mesmo, veja o que eu vivi e depois se lance com coragem e fé do seu modo.
Antes de contar, quero garantir que os fatos narrados são verídicos, mas posso omitir alguns nomes das pessoas que deles participaram, simplesmente pela razão de que o tempo os retirou de minha lembrança, por razões óbvias, permanecendo nela apenas recordações, como marcos plantados em minha caminhada.
Era o final do mês de junho do ano de 1969 e eu cursava o primeiro ano de Direito na Universidade Federal de Minas Gerais. Ano difícil e no auge da chamada ditadura, com edição do AI -5 e tudo mais que ocorria na repressão militar que vigorava no Brasil, excluindo muito das liberdades que tínhamos.
Éramos uma turma bem animada, pelo menos 240 alunos distribuídos em quatro turmas, duas salas pela manhã e duas à noite, uma destas noturnas eu frequentava por motivo de trabalhar durante o dia. Em uma das salas do período da manhã, entre as mais variadas figuras, existia uma que se destacava, não só pela sua aparência meio diferente, como também por ser bastante inquieta, porém, percebia-se nela uma inteligência rara.
Figura magra, com cabeleira farta e comprida penteada para trás, os olhos meio vesgos, grandes e repuxados, acima de um nariz pequeno, que lembravam uma figura do extremo oriente asiático, muito conhecida nos anos 60, o que lhe causou um apelido bastante oportuno para a época, “Vietcong”, a quem chamávamos apenas de Viet.
Seu nome mesmo é Eugênio (quero crer que esteja vivo ainda), bom companheiro de jornada, do qual não tive mais notícias, desde que nos separamos em Nanuque quando regressávamos, pois naquele mesmo primeiro ano, nem retornou ao curso, desistindo da Faculdade e pelo que fiquei sabendo depois, adquiriu, talvez com dinheiro de alguma herança, terrenos no norte de Minas Gerais e para lá se foi para não voltar.
Pois bem, eu ficara sabendo, através de algum aluno que o Viet procurava um colega na turma, que quisesse formar uma dupla com ele numa viagem pelo Nordeste, pedindo carona e apenas com mochila nas costas. Naquela época, isso era comum no Brasil, praticado por jovens que, sem dinheiro para custear passagens e hospedarem, arriscavam-se nestas aventuras. Ainda não haviam tantos assaltos nem se corriam perigos maiores, mas, mesmo assim, ficavam sujeitos a outros riscos por causa das dificuldades de possíveis acidentes estando só e longe de casa, de conseguir alimentação, pernoite, etc. Daí, a necessidade e a boa previdência de se viajar em dupla, para um amparar o outro. Este desejo já tinha passado pela minha cabeça, pois soubera de alguns amigos que fizeram estas viagens e se deram bem.
Assim que nós dois nos encontramos, combinamos logo os detalhes, sem muita responsabilidade ou boa preparação, bom dizer, como é próprio dos jovens e decidimos fazer a tal viagem mesmo sem qualquer grana, no início das férias em julho. Para nos ajudar e justificar a nossa viagem, quando precisássemos conseguir abrigo e comida, não é que o Viet convenceu o diretor da Faculdade a fornecer-nos uma Carta de Apresentação, “a quem fosse do interesse”, informando, além de nossos nomes, que representávamos nossa Faculdade em pesquisas do Folclore Nacional!!! Muita esperteza e inteligência, não acham? Realmente não tínhamos essa intenção em nossa viagem, nem sabíamos dissertar sobre folclore, mas o que essa carta nos ajudou, vocês nem imaginam!
Uma das minhas primas – eu morava de pensão na casa de uma tia – quando a informei sobre a viagem e que não tinha grana para nada, me deu uma mochila que conseguira com alguma das amigas dela, resolvendo um dos meus primeiros e maiores problemas. E vejam ainda como Deus é Pai!
No dia seguinte, estava num ônibus urbano indo para algum lugar, não me lembro mais, quando ao olhar para o chão, em baixo da poltrona, eis que vi… mais parecia um pedaço de papel vermelho, mas ao pegá-lo, para minha suprema alegria, constatei que era uma cédula de vinte cruzeiros. Alegria maior não poderia ter naquele instante. Ela foi muito útil mais à frente, em Salvador/Bahia, no Mercado Modelo, quando falarei mais sobre ela seguindo a trilha.
Naquele ano, eu trabalhava como corretor autônomo participando do lançamento de ações que seriam negociadas em Bolsa de Valores mas sem vínculo trabalhista e nada me impedia de viajar quando e se assim quisesse. Foi então que na segunda-feira me despedi da namorada já tendo preparado a mochila de véspera: três camisetas brancas, uma calça jeans de reserva, cinco cuecas, cinco pares de meias, uma coberta, um sabonete, um tubo de dentifrício, escova de dentes, uma máquina Kodak que já possuía, um rolo de filme para fotos preto e branco que os colegas da Faculdade nos deram e um pacote de cream craker que surrupiei na cozinha de minha tia, vestindo uma calça jeans, uma camiseta branca, um casaco de plástico imitativo de couro, calçando um coturno que me acompanhava desde os tempos do exército em 1964.
Saí de casa na manhã do dia 01 de julho, numa terça-feira, por volta das sete horas, me encontrei com o Viet na porta da Faculdade e partimos, a pé, rumo ao norte, em busca de aventuras.
Assim começou nossa jornada.
AFF! (e continua…)
*Os textos que foram publicados aqui no blog não estarão mais aqui…se você gostaria de saber o que acontece depois, se prepare…
Você encontra o restante das aventuras agora em livro!
Meu Pai mochileiro: Uma aventura pelo Sudeste e Nordeste de 1969
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