Carol Ferigolli & Projeto Acordando Palavras
Sou educadora e mochileira. Nasci de uma família muito simples e a escassez de recursos me permitiu uma infância/adolescência sem nenhuma viagem, só a labuta pela sobrevivência mesmo, de quem aprende a lutar uma batalha por vez!
Minha curiosidade de menina e meu trabalho desde os 13 anos me impulsionou a nutrir um desejo imenso em voar para além das fronteiras da minha Barra Funda, bairro imigrante da minha amada Pauliceia Desvairada; e conhecer o mundo da forma mais trivial que fosse possível. O plano de vida foi claro, trabalhar para estudar, estudar para trabalhar melhor e poder viajar! Escolhi ser professora, depois psicopedagoga e a veia social sobressalente apimentou a história toda!
Meu ofício me deu algum dinheiro, que me permitiu adquirir meu primeiro mochilão 55 litros e sair pelo mundo. Primeiro, mochilei pelo Brasil, queria brasilizar, me encher de povo, aromas, cores e paisagens. Queria me encontrar pelas estradas, me perder pelos sotaques, ritmos, agitos. Foram muitas andanças, curtas, longas, perto, longe. Teve uma vez, por exemplo, acho que 2009, fui até Salvador e vim voltando para São Paulo aos poucos, sem pressa…Foram 30 dias e 9 cidades só daquela vez! Eu aprendi tanto! A grana estava curta, mas tinha que caber no tanto de dias que tinha desejado viajar. Assim, com pouco dimdim, muita curiosidade e disposição descobre-se o simples, ordinariamente belo, o cotidiano dos lugares onde há um encanto incrível em conhecer a beleza do povo, os lugares autóctonos livres de turistas por atacado e gasta-se pouco comprando o crochezinho da tia do dono do botequim daquela praia que só os nativos vão…
Foi assim que construí meu currículo mochileiro repleto de experiências, acontecências, amigos espalhados por aí e memórias que ainda hoje me fazem suspirar de desejo por voltar para a estrada. Lá se foram 12 países… em sua maioria os que certamente constituem minha identidade latina… Uruguay, Paraguay, Chile, Argentina, Bolívia, Colômbia e Peru, o meu preferido! Mochilando aprendi o valor da hospitalidade, da solidariedade, da empatia e da mágica que existe quando dois humanos se sentam para compartilhar histórias em volta da parrilla, do mate ou mesmo na partilha de um calientito mate de coca.
Aprendi a ser autônoma, independente, a “me virar”, a me alimentar com comidas “estranhas” aos meus hábitos, aprendi a experimentar. Aprendi a me orientar e a me locomover sem nunca ter estado naquele território. Aprendi a me comunicar mesmo quando não falo a mesma língua de alguém. Aprendi a suportar o frio, o calor e a experimentar o modo de vida alheio por mais precário e doloroso que ele seja. Aprendi a viver com muito menos, aprendi a ser muito mais desapegada! Aprendi a precisar e a temer a natureza com suas exuberantes paisagens. Aprendi que tudo que eu realmente preciso para sobreviver cabe numa mochila e eu posso mesmo carregar nas costas. Foi mochilando que venci o pânico. Meus sentidos ficaram mais aguçados! Acho que a estrada me fez muito mais humana!
Em 2010, fiz meu primeiro mochilão internacional, ocasião em que me apaixonei pelos andinos do altiplano. Viajei com mais 3 amigas pelo Peru, mais uma vez a sensação de liberdade, mochila nas costas e alguns poucos soles peruanos que nos duraram 28 dias, Lima, Cusco, Águas Calientes, Machu Picchu, Puno, Arequipa, Huánuco… Essa viagem transbordou minha vida de aprendizagens, que me presentearam com uma mudança radical, em 2011 fui viver no Peru para a maior aventura que tive até hoje! Implantar um projeto de educação em Huánuco, junto a comunidades marginais da cordilheira dos Andes. Nascia o rebento mais próspero e desafiador do Acordando Palavras…
Já se passaram 6 anos desde então e hoje, desejosa de disseminar essas aprendizagens que construí ao longo desse processo, nasceu a Expedição Acordando Palavras, um programa de formação que levará um grupo de profissionais da área social e jovens de periferia engajados em suas comunidades locais para uma imersão de 15 dias no Altiplano Andino, serão dias recheados de atividades de desenvolvimento e trabalho comunitário.Para custear as despesas de viagem de parte do grupo que de fato não conta com todo recurso estamos na reta final de uma campanha de financiamento coletivo que termina dia 10 de dezembro de 2016. Para conhecer melhor a proposta e doar acesse: http://www.benfeitoria.com/acordandopalavras
Para saber mais ou saber como nos apoiar após o término da campanha no benfeitoria entre em contato por meio do e-mail [email protected] ou no website: http://acordandopalavras.org/
Carol Ferigolli – Professora, Psicopedagoga e Mestra em Educação pela Faculdade de Educação da USP. Morou 1 ano e meio no Peru onde realizou um projeto de desenvolvimento comunitário chamado Acordando Palavras. Dedica sua vida em intervir na aprendizagem dos que apresentam dificuldade em aprender. Trabalhou com crianças, adolescentes e adultos. Fez a rota proposta da expedição algumas vezes e já viajou por 12 países, sempre de mochilão e com pouco dinheiro.