Faço parte de 2% da população que foi para Antártica
Apresentamos Flavio Barreto. Ele é irmão de Denise Barreto, redatora deste blog. Neste texto, ele compartilha sua experiência no lugar menos visitado do mundo: Antártica.
Gostaria de compartilhar minha experiência única e inusitada aqui. Sou militar da Marinha, carioca e já tive a oportunidade e a obrigação de viajar algumas vezes por causa do meu trabalho. Conheci boa parte do Brasil (Ceará, Amazonas, Pará e Rio Grande do Sul) e da América do Sul (Argentina, Peru, Colômbia, Chile e Uruguai) por conta disso. Em 2013, recebi uma correspondência que mudaria profundamente minha vida.
Certo dia, recebi um pequeno envelope com um singelo cartão com os dizeres: “Parabéns! Você faz parte de 2% da população mundial que vai para a Antártica!”. Uma frase tão simples pode ter um significado bem profundo. Mais uma grande mudança em uma vida que se adaptou depois de sucessivas mudanças de Norte ao Sul do Brasil. Minha vida mudaria novamente. Eu teria que voltar ao Rio de Janeiro para preparar-me para o desconhecido.
Confesso que passada a euforia inicial, o medo se fez presente. Já havia passado por experiências diferentes, mas essa era de longe a mais inusitada e singular da minha vida. Ter que me preparar para o longo período de seis meses da viagem e manter minha cabeça no lugar em meio ao isolamento, deixaram-me bem preocupado.
Embora tivesse a oportunidade de recusar o convite, decidi fazer a viagem e comecei os treinamentos necessários. Logo busquei informações acerca do que se tratava a Operação Antártica (OPERANTAR) e sobre o que faria a bordo do Navio Almirante Maximiano.
A finalidade do Navio é apoiar as atividades de pesquisas no continente gelado. Assim como outros países que desenvolvem atividades naquele lugar, o Brasil busca manifestar seu interesse para futuras partilhas territoriais, mantendo uma base e desenvolvendo pesquisas científicas.
O período que antecedeu a viagem foi de treinamento árduo em técnicas de sobrevivência, combate a incêndios e manobras em aeronaves. Contaríamos apenas uns com os outros nessa empreitada.
Depois desse período, chegou a data da partida. Um tom parecido com a música “Encontros e Despedidas”, aquele aperto no peito com os olhos cheios de lágrimas e muita força para deixar aqueles que amamos no porto e iniciar uma longa jornada.
Como era de se esperar, após deixar o Brasil, a viagem já em seu início proporcionou momentos únicos. Antes de chegar em nosso primeiro porto, Ushuaia, a Terra do Fogo, passamos pelo nervoso estreito de Drake e descobrimos o motivo literal da expressão “mar tranquilo não faz bom marinheiro”. Não consegui descobrir se era a recepção nervosa do deuses marinhos ou um desejo incomum de boas vindas.
E isso era apenas o começo! A tão esperada viagem havia realmente começado e logo após os dias de tormenta no Drake, fomos presenteados com uma primeira visão estonteante de nossa viagem, o Canal Beagle, antes de nossa primeira parada.
A chegada na Terra do Fogo também não fez decepcionar. A cidade da Argentina é um belo porto e, mesmo no interior, o movimento dos free shops, parques cobertos pela neve e bares aconchegantes fazem com que aqueles que visitam a cidades tenham boas opções de diversão.
Flávio não teve chance de aproveitar Ushaia, mas o pessoal do blog A Pé no Mundo esteve por lá e compartilhou dicas de como chegar, hospedagens, passeio… Saiba mais sobre Ushaia!
Depois dos primeiros dias “empurrando água”, uma parada foi renovadora. Apenas alguns dias permitiram saber que a parte difícil ainda estava por vir. Logo, partimos em direção ao continente gelado.
Foi a primeira de seis idas ao continente para o navio, apoiando as atividades de pesquisas e prestando assistência à Base Brasileira na Antártica.
E depois de uma longa jornada chegamos ao continente gelado. E mais uma vez fomos recepcionados com visões ímpares! O espetáculo é rotineiro naquele lugar. Do nascer ao pôr do sol, a natureza entrega presentes aos olhos.
Aquele momento em que é melhor deixar as imagens falarem …
Alguns momentos me marcaram profundamente: a primeira vez que pudemos testemunhar neve caindo do céu, fazer aquele boneco de neve todo torto com a neve que se acumulava ao longo dos grandes conveses do navio, sair para conhecer outras bases e visitar algumas das inúmeras ilhas existentes.
Mas nem só de trabalho vive o homem e nos momentos de lazer contávamos com uma estrutura invejável no navio: wi-fi, telefone para contato com o Brasil, uma ampla variedade de filmes e o grupo “Sobremesa”, que começou em uma brincadeira e ganhou força durante a viagem, em nossos momentos de confraternização.
Era uma maneira de nos unirmos nas dores da distância e da saudade, afinal passamos Natal, Ano Novo e qualquer outra data que possa ser significativa durante a viagem afastados de casa. Misturávamos os ritmos ouvidos na cidade chilena de Punta Arenas, nosso porto de apoio ao longo da viagem, ao bom e velho pagode para alegrar a tripulação e renovar as forças para o trabalho.
Foi uma experiência singular, viver seis meses confinado com pessoas completamente diferentes, com valores distintos, experiências e objetivos diferenciados, que simplesmente ao ouvir: “Tio Max! Cadência Máxima!”, brado do Navio, se tornavam capazes de grandes feitos. Entrei naquele navio cheio de incertezas e com medo do próximo passo. Foi uma longa jornada, com muitos momentos memoráveis.
Cheguei ao Rio de Janeiro uma pessoa diferente da que saiu seis meses antes. O período de “confinamento” serviu para repensar a vida e aprender a dar valor ao que é simples e nem sempre temos ao alcance: Família, nosso lar ou até mesmo poder sair de casa.
Faço parte de 2% da população mundial que esteve na Antártica! Essas não são palavras de ostentação e sim de orgulho pela oportunidade ímpar de ir além do convencional e ter a experiência incomparável de amadurecimento.
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