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Sobre África do Sul e racismo: algumas percepções

Um dos meus maiores sonhos era conhecer a África do Sul. Depois de muitas pesquisas foi possível realizar este sonho. Sempre me imaginei caminhando pelas ruas sul-africanas, observando pessoas e indo a museus para conhecer mais e mais da história de um país tão marcado por conflitos relacionados a diferenças de raça e cultura.

Quando viajei para lá com meu marido, deixei claro que gostaria de visitar o Museu do Apartheid que fica localizado em Joanesburgo. Lembro-me de ter aprendido sobre o apartheid no Ensino Médio e ter pensado como aquele país havia sido marcado por lutas até o fim deste período.

Apesar do apartheid ter terminado em 1994, andando pelas ruas de Cidade do Cabo, no primeiro dia pudemos sentir as consequências do regime. Chegamos de viagem e procuramos um restaurante na esquina da rua em que estávamos hospedados. Meu marido, branco, e eu nos sentamos no interior do restaurante e pedimos os nossos pratos. Percebi que só havia duas pessoas negras lá, um homem que estava acompanhado de amigos e eu. Percebi também que as pessoas não conseguiam controlar o olhar: olhavam, principalmente para mim. Com o passar dos dias, constatei que um casal interracial não é algo comum para eles. Quando andávamos na rua, algumas pessoas brancas olhavam sem pouco ligar para disfarces. Em verdade, aqueles olhares não me incomodavam, mas me fizeram pensar como o fim oficial do apartheid, de fato não significou o fim das diferenças. Ainda que a lei não ampare mais tais separações, há sim um lugar que é marcado para o negro. O pedinte, o subempregado…

Sem querer fazer comparações tendenciosas, nos lugares que comparecemos, cuja a administração era feita por pessoas negras, como o restaurante City Grill em Cidade do Cabo por exemplo, não percebemos esse olhar de estranhamento. Nesses lugares fomos recebidos com sorrisos nos lábios e palavras simpáticas.img_0153

No Museu do Apartheid, vivemos uma experiência muito significativa. Quando compramos os ingressos, meu marido recebeu um ingresso para brancos e eu para não-brancos. Por alguns minutos fomos separados, pois acessamos o museu pelas entradas correspondentes à nossa raça. Lembro-me de ficar paralisada e olhar ao redor. Havia ampliações de documentos de pessoas que sofreram no período. Arrepiada e reflexiva… Assim permaneci por alguns instantes, até pensar em fotografar qualquer coisa.

Outro lugar visitado, foi a prisão, atualmente desativada, onde Nelson Mandela cumpriu boa parte de sua sentença. A ilha onde a prisão foi construída é uma ilha incrível, sem dúvida. Mas é impossível ouvir as histórias sobre o que tudo aquilo representou e se manter imune. No último momento do passeio, o guia que nos acompanhou era um ex-prisioneiro do local. Ele mostrou a cela de Nelson Mandela que em nada diferia de qualquer outra. Aprendi que naquele lugar tentaram fazer com que aquelas pessoas perdessem suas identidades, mas não obtiveram êxito.

Segundo o que li na visita, Nelson Mandela dizia que o jardim que existia lá, era a única coisa que os prisioneiros podiam controlar. Palavras curiosas de uma pessoa que deixou aquele lugar e esteve à frente do seu país.

De certa forma, uma marca histórica de segregação não pode ser facilmente ser transformada. O fim do regime Apartheid teve fim há pouco mais de 20 anos, tempo histórico relativamente curto. É importante pensarmos sobre o que aconteceu naquele país, para que esta história não se repita.

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Brasileira e carioca. Residente no Rio de Janeiro. Formada em Pedagogia, atua como professora, mais especificamente na área de Educação Especial. Casada, além disso vive com um cachorro com uma inteligência assustadora. Ama dançar. Mochileira assumida com paixão por botar o pé na estrada.