PLUNCT-PLACT-ZUM: na imigração, dá pra seguir sem problema algum?
Tenho muitas pessoas em meu ciclo de convivência que nunca deixaram o país e que possuem receios sobre passar pela imigração em um país estrangeiro. Também conheço diversas pessoas que são viajantes experientes e sempre sentem aquele frio no estômago quando deixam o país. O temor se amplia quando a viagem é para um país considerado desenvolvido.
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Diante das inseguranças, pensei neste texto; queria saber se as experiências que tememos acontecem com frequência. Muitos de nós, viajantes, já se imaginaram sendo conduzidos a uma sala para uma entrevista com agentes do governo quando tudo que queríamos era conhecer um lugar novo. Com disposição a ouvir apenas, direcionei a seguinte sentença a algumas viajantes experientes:
Quero reunir depoimentos de mulheres referentes à seguinte situação: minha experiência com a imigração.
Recebi quase que imediatamente a maioria das respostas que certamente contrariaram meu imaginário. As viajantes não se recordavam de situações que as tenham marcado quando atravessavam setores da imigração. Não é tão comum assim, como eu imaginava, viver situações constrangedoras nestas ocasiões. Devo confessar que saber que uma mulher pode colocar a mochila e ganhar o mundo sem ter que se preocupar tanto com a imigração foi reconfortante. Foi positivo para que eu desmistificasse meus medos e pudesse crer um pouquinho mais na humanidade.
Porém, devo mencionar que nem tudo são flores… Algumas responderam que sim (1/3 delas) e contaram um pouquinho do que viram e viveram. Anônimas, aqui estão um pouco das experiências delas.
Era minha primeira vez na Europa. Eu estava muito feliz. Depois de um voo muito cansativo de aproximadamente 9 horas, chegamos ao aeroporto de Portugal. Eu estava com 3 amigas. Não sabíamos que poderíamos ir ao guichê juntas e cada uma tomou uma fila diferente. Percebi que todas as pessoas em todas as filas passavam pelos guichês MUITO rápido, sem grandes perguntas. Inclusive minhas amigas. Enquanto isso, eu estava lá respondendo perguntas como “Você está viajando sozinha?”, “Então onde estão suas amigas?”… Todas as perguntas feitas por duas vezes por uma moça com “cara de poucos amigos”. Quando eu disse que era uma viagem de 8 dias ela finalmente carimbou meu passaporte. Sobre as minhas amigas?!? Elas estavam lá esperando por mim. Tomaram um certo “chá de cadeira”.
…aqueles motivos de sempre, ser mulher, ser da América latina…
Meu maior medo em relação à imigração sempre foi que os agentes achassem que eu teria interesse em ficar ilegalmente no país e com uma profissão específica: prostituta. Por aqueles motivos de sempre, ser mulher, ser da América latina, e por na época estar solteira. Lembro que eu pensava: ah não sou novinha, então eles não vão pensar isso. Mulher e sexualidade sempre andando junto, até no momento em que a fiscalização tem apenas que confirmar o motivo da sua viagem. No final tudo dava certo, mas o antes e durante na imigração sempre foi um momento tenso.
…fui atendida por um agente de imigração muito grosseiro que batia na mesa enquanto falava.
Cheguei no aeroporto de Atlanta por volta de 5h da manhã. Havia uma fila quilométrica no setor de imigração. Alguém informou que um problema operacional tinha ocorrido no sistema. Bom, fiquei duas horas naquela fila. Perdi meu voo de conexão por causa disso. Era minha primeira vez no país. Depois daquela espera memorável fui atendida por um agente de imigração muito grosseiro que batia na mesa enquanto falava. Ele questionava o motivo pelo qual eu passaria tão pouco tempo no país. Eu estava estressada e cansada… Respondi à altura. Eu disse que não tinha qualquer razão para ficar no país dele. Por fim, ele baixou o tom e eu disse que visitaria alguns amigos. Desejei um bom dia e procurei a companhia aérea para tentar prosseguir viagem.
Quando fui pela primeira vez à Inglaterra, iria ficar lá por quase um ano para estudar. O visto antigamente era concedido somente como turista e de lá eu pediria o visto de estudante. O visto de estudante permite trabalhar, mas o de turista- obviamente – não. O oficial da imigração a todo tempo me perguntava (todo tempo mesmo, repetiu a pergunta em sequência, umas 3 vezes): “Do you intend to work here?”. Pior que ele tinha um dentinho pra fora que estragava a dicção. Eu entedia que ele estava perguntando se eu ia trabalhar e respondia não. Mas era difícil não notar aquele dente teimoso! Ainda bem que isso foi só da primeira vez…no geral, nas outras vezes em que voltei fui muito bem tratada!
A oficial foi super bruta e apontou para uma caixinha e disse: “Abra isso. O que é isso?”
O caso que assisti se passou em 2012, na época de final das Olimpíadas. Estava na fila do raio-X de bagagem, na imigração no aeroporto de Washington Dulles, nos EUA. Uma moça alta e muito bonita estava um pouco mais à frente. Chamou a atenção quando ela passava sua bagagem de mão, pois muito grosseiramente a oficial (negra, como ela!) exigiu que ela abrisse a bolsa. Ela abriu. A oficial foi super bruta e apontou para uma caixinha e disse: “Abra isso. O que é isso?”. Quando a moça abriu, tchanaaaaaaan!! A medalha olímpica! Era nada mais nada menos que a Fabiana Claudino do vôlei brasileiro, medalhista de ouro no Rio. E olha que a seleção tinha acabado de ser campeã sobre os EUA no dia 11 de agosto daquele ano. O fato aconteceu no dia 18. A cara das 5 oficiais ao redor foi impagável. Todas pararam e foram olhar! Entusiasmadas, diziam umas para as outras: “a medalha, a medalha”. Aí ela passou. E a cara amarrada pra atender a gente voltou…C´est la vie!
Ela passou por infinitos constrangimentos, ficou detida.
Uma senhora muito conhecida minha, faz muitos anos, viajou com a família para Paris. Na imigração do Charles De Gaulle (aeroporto de Paris) foi barrada. Queriam ver bagagem de mão. E, “voi-là”, cheia de café e polvilho! Santa inocência, Batman! Ela queria fazer um agrado para os amigos na França e não se deu conta…Polvilho e café são coisas usadas para mascarar drogas. Ela passou por infinitos constrangimentos, ficou detida. No fim entrou na França, tudo foi esclarecido. Mas ela contava a história até hoje chorando. “Nunca queira passar por isso”, ela sempre diz…
Leia também: Viajar sozinha aos 50 anos
Dessas experiências, podemos tirar alguns conselhos preciosos:
- Seja sempre objetivo, responda somente o que for perguntado;
- Na bagagem tenha apenas o que é absolutamente necessário.
Para além disso, espero que este texto contribua para aqueles que desejam cruzar fronteiras e ainda têm seus medos. Pessoas vivem experiências ruins na imigração? Certamente. Mas há muitas pessoas que viajam diversas vezes por ano para diversos países e nunca tiveram problemas sérios. Concluo com um trecho de uma música do saudoso Raul Seixas:
PLUNCT! PLACT! ZUM!
Pode partir sem problema algum!
Boa viagem!!
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