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Quem tem medo do lobo mau? Mulheres, viagem, machismo e assédio

Esse texto reúne relatos de mulheres viajantes que viveram situações diversas que evidenciaram questões de gênero. Viagens, assédio…  O feminismo aborda assuntos desnecessários? Machismo é mi-mi-mi?

Iniciei a escrita deste texto pedindo relatos de viajantes sobre situações em que foram vítima de uma abordagem “sem noção” e/ou assustadora. Assim, os relatos chegaram até mim. Anônimas, elas fazem parte de um percentual que tem o hábito de viajar sozinhas ou entre amigas e contam para nós um pouco de suas histórias.

  • Uma das minhas preocupações quando viajei sozinha pelo Chile era sair para beber uma cervejinha sozinha, coisa tão comum no universo masculino, mas sempre me sinto julgada quando faço isso. Sentar num bar às 20h da noite só… Era um desafio! Ridículo, não é? E lá não foi diferente, tratei de fazer amizade no hostel e saí com pessoas que conheci por lá(uma outra garota falou que tinha essa preocupação também). Não bebi sozinha.

  • Uma vez caminhando por lojinhas na Argentina (sozinha), um cara começou a me seguir como um louco, usou palavras muitos vulgares e se foi. Fico na dúvida, se eu estivesse acompanhada de um homem isso aconteceria?

…se eu estivesse acompanhada de um homem isso aconteceria?


  • Em 2007 comecei meu percurso por alguns países da América Latina e simplesmente me apaixonei. Em 2016 não foi diferente mas, dessa vez, precisei enfrentar a barreira social da mulher que viaja pra um outros país sozinha. Fiz as reservas embora com muito medo, sobretudo o desejo de conhecer era maior. Hospedei-me em um hotel no Centro de Lima. Recepção boa, acolhimento formidável. Eu era a única brasileira e negra por ali. Em um dos dias, depois de voltar de um dia todo de passeios, cheguei ao hotel e me deparei com uma festa. Na recepção fui informada que era o aniversário do estabelecimento e um dos donos me convidou a participar. Havia algumas pessoas, todas entre 50 e 70 aproximadamente. Eu estava sentada observando as pessoas e comendo quando percebi que um dos donos do estabelecimento conversava com um homem e olhava pra mim… Eu gelei, pois li em seus lábios quando disse que eu era uma bela mulata brasileira. Foi então que meu desespero começou. Um homem veio em minha direção e começou a me olhar como se eu nua estivesse e me convidou pra dançar. Eu disse que não, estava cansada e iria para o quarto. O homem e seu amigo insistiram pra que eu ficasse, mas sem pestanejar fugi dali, indo para o quarto e trancando a porta. Senti-me acuada, com medo e vi bem de perto o que antes era notícia de TV. Uma mulher negra no imaginário social pra além do meu país. O assédio me tirou o chão. Mil coisas se passaram em minha mente: _Quem lutaria por mim caso acontecesse algo fora da minha vontade? Eu não tive escolha… Tive que fugir. Confesso que os dias naquele estabelecimento foram tensos, mas depois foram ressignificados pela coragem que surgiu bem distante dali. E me perseguiu até a volta para minha terra.

Senti-me acuada, com medo e vi bem de perto o que antes era notícia de TV. Uma mulher negra no imaginário social pra além do meu país.


  • Outra vez eu estava chegando em um aeroporto e o taxista cobrou um valor absurdo (viajando ou não isso acontece). Me pergunto se eu fosse homem eles teriam a cara de pau de me cobrar mais caro. Claro que alguns sim, no entanto penso que alguns associam mulher com burrice.

…penso que alguns associam mulher com burrice.

  • Fui a Vitória (ES) sozinha. Assim que cheguei ao hostel, fui recebida pelo proprietário e logo percebi que ele me olhava de uma maneira diferente. Eu havia feito reserva em um quarto mais barato, mas ele me transferiu para um quarto mais reservado, pois a princípio as vagas não tinham sido preenchidas. Fui passear pela cidade e voltei à noite. Assim que ele me viu, disse que algumas meninas que tinham feito reserva chegaram. Perguntei se deveria mudar de quarto e ele me convidou para sentar e conversar. Ofereceu-me suco e disse que eu era bonita. Visivelmente ele estava sob efeito de álcool e/ou drogas. Agradeci e perguntei novamente se deveria mudar de quarto. Ele não respondeu e começou a contar algumas histórias. Chamou-me de “minha morena” e beijou meu ombro. Levantei-me e fui para o quarto. Lembro-me de tentar organizar meus pensamentos. Eu não queria me privar, porque alguns caras não percebem que somos seres humanos, não pedaços de carne. Por fim, decidi deixar o hostel todos os dias bem cedo e voltar bem tarde. Nos demais dias eu fiquei bem.

Eu não queria me privar, porque alguns caras não percebem que somos seres humanos, não pedaços de carne.


  • Estava eu em uma viagem em Porto Seguro com duas amigas e decidimos nos divertir a noite no point local, uma boate que tocaria o melhor do axé. Imagina o meu ânimo, roqueira declarada, com o evento. Cedi à vontade das amigas e fomos. Chegando lá dancei todos os hinos de infância… Do Havaí ao Egito com o Tchan… Até que um rapaz me abordou bêbado, muito bêbado. Entre os vários nãos que ele recebeu e não contente com o resultado tentava me persuadir a lhe dar um beijo para que ele largasse do meu pé e fosse embora. Depois de vários perdidos que dei no sujeito, ele acabou agarrando alguma outra alma perdida por lá e permaneci em paz com minha execução reveladora de morena do Tchan.

  • Estava no interior da Bahia, caminhando por uma estrada de barro. De repente um carro passou por mim naquele caminho e um homem que estava na poltrona do carona disse algo que eu não entendi enquanto me olhava. Um pouco mais à frente, ele abriu a porta do carro e colocou uma das pernas para fora… O carro não ia muito rápido. Rapidamente pensei em fazer uma expressão facial desencorajadora e virei de costas (eu estava pronta para correr). Deus! Ele desistiu de fazer seja lá o que for que ele iria fazer e o carro partiu.

Em comum, todas as narrativas mostram mulheres que não se deixaram abalar… Mulheres corajosas cujas histórias são unidas por um desejo comum: liberdade. Ainda vivemos em tempos de falsas igualdades, onde um homem que põe uma mochila nas costas e corre o mundo é um aventureiro, mas uma mulher é vista como uma vítima em potencial, culpada pelos perigos aos quais foi e será submetida. O que queremos? Libertação feminina. Queremos ir e vir sem sermos subestimadas, discriminadas, coagidas…

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Brasileira e carioca. Residente no Rio de Janeiro. Formada em Pedagogia, atua como professora, mais especificamente na área de Educação Especial. Casada, além disso vive com um cachorro com uma inteligência assustadora. Ama dançar. Mochileira assumida com paixão por botar o pé na estrada.